Especialista destaca a
gravidade da situação, medidas preventivas e a chegada da vacinação como
esperança no combate à doença.
A
dengue, uma doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, destaca-se por sua
complexidade, impulsionada pelos quatro sorotipos do vírus (DEN-1, DEN-2, DEN-3
e DEN-4). Cada sorotipo representa uma variante genética distinta do vírus da
dengue, e a infecção por um sorotipo confere imunidade duradoura apenas contra
esse específico. O desafio surge quando um indivíduo é reinfectado por um
sorotipo diferente, aumentando o risco de desenvolvimento de formas graves da
doença. A circulação simultânea desses quatro sorotipos, como observado
atualmente, amplia a complexidade epidemiológica, tornando a gestão e prevenção
da dengue ainda mais desafiadoras para os profissionais de saúde e as
autoridades sanitárias.
A
Dra. Maria Aparecida Teixeira, infectologista do Hospital de Base do Distrito
Federal, compartilha seu conhecimento sobre o atual cenário da dengue no
Brasil, uma doença endêmica que persiste durante todo o ano, com a frequência
de casos aumentando a cada 1 a 2 anos, como parte da sazonalidade esperada. O
que chama atenção neste momento é a circulação simultânea dos 4 sorotipos do
vírus (1, 2, 3 e 4), ampliando o número de pessoas suscetíveis.
“O
sorotipo 2, inativo nos últimos 10 anos, ressurgiu entre 2021 e 2022, enquanto
os sorotipos 3 e 4, ausentes por cerca de 15 e 5 anos, respectivamente, agora
reaparecem. A infectologista destaca que, embora os sorotipos 3 e 4 não causem
necessariamente quadros mais graves, a gravidade da dengue está associada à
infecção secundária. Indivíduos que tiveram a doença antes têm um risco maior
de desenvolver formas mais severas,” explica a especialista.
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foto: freepik |
Dados
do Ministério da Saúde e do sistema INFODENGUE da FIOCRUZ indicam uma projeção
alarmante de até 5 milhões de casos este ano, comparados aos 1,6 milhões do ano
anterior, resultando em um recorde de 1079 óbitos em 2023. A médica enfatiza a
responsabilidade dos serviços de vigilância epidemiológica do comportamento de
casos de dengue. Do mesmo modo, o envolvimento da população em combater
criadouros, além da importância do trabalho dos agentes sanitários e do
investimento em saneamento básico como medidas preventivas.
A
chegada da vacina contra a dengue, conhecida como Qdenga, ao Programa Nacional
de Imunizações (PNI) é destacada como um marco. A Dra. Teixeira ressalta que o
Brasil sai na frente ao oferecer o imunizante no sistema público de saúde.
“Embora a vacinação seja fundamental, seus efeitos não serão imediatos. O
esquema vacinal, com duas doses e um intervalo de no mínimo 3 meses, demanda
tempo para conferir imunidade efetiva. A oferta inicial pelo SUS será restrita,
visando alcançar mais de 90% de cobertura vacinal em regiões prioritárias.”
Quanto
à vacina brasileira em desenvolvimento pelo Instituto Butantan, atualmente na
fase 3 do ensaio clínico, a Dra. Teixeira destaca a expectativa para o ano de
2024. “Essa iniciativa visa resolver possíveis problemas de abastecimento
vacinal devido às limitações na produção estrangeira.”
A
infectologista alerta para a persistência dos ovos do mosquito por até 2 anos,
sublinhando a importância de medidas preventivas, como saneamento básico
adequado e eliminação de criadouros. O cenário composto por condições
climáticas favoráveis, falta de cuidados e o mosquito altamente resistente
formam uma tempestade perfeita para o aumento de casos da dengue e mortes pela
virose hemorrágica. A Dra. Teixeira encerra ressaltando a necessidade de enfrentar
não apenas a dengue, mas também outras viroses associadas, como Zyka e
Chikungunya.