Marcelo Mendes*
Em um ambiente de saudável e acirrada concorrência o
diferencial é ter um compromisso inegociável com a qualidade e o investimento
contínuo no desenvolvimento e aperfeiçoamento de soluções técnicas. Neste
ambiente empresas inovadoras ficam pesquisando, às vezes, por longos anos, para
só depois investirem no desenvolvimento de um produto.
Neste cenário, as empresas de distribuição de energia
declaram grande preocupação com a eficiência de suas redes elétricas, mas então
por que razão instalam produtos de tecnologia ultrapassada e produtos com
padrões de similaridade, porém de qualidade e desempenhos diferentes? Será que
esta busca para se ter um ambiente de concorrência e buscar redução de custos
não é o barato que sai caro? Na análise comparativa do OPEX anual está havendo
uma redução com esta política? É certo que há outros fatores que incidem sobre
este indicador, as severas condições climáticas é uma delas, mas
resguardando-se este fator há de fato uma redução? Além de uma reflexão, uma
análise mais detalhada pode surpreender e demonstrar algo que não se quer ver.
O mesmo raciocínio se aplica as usinas solares ao
escolher um produto não certificado e muitas vezes sem procedência e provocar
sérios efeitos colaterais. Há “cópias” que durante seu processo de manufatura
não tem um mínimo de padrão de qualidade, utilizam-se materiais “similares”,
mas de baixa qualidade e que não atendem requisitos mínimos de desempenho e
segurança e o resultado são prejuízos com retrabalhos e muitas consequências
negativas. Não se pode comprar um carro e trocar aleatoriamente o tamanho das
rodas sem que haja consequências no seu uso. Ocorre o mesmo no sistema
elétrico.
É bom ressaltar que em caso de falhas técnicas, antes do
ressarcimento a seguradora de um parque solar vai investigar se a queima de uma
placa fotovoltaica foi pela falta de qualidade de um conector não certificado.
Quando um conector tem certificação, além da proteção natural, o segurado paga
um valor mais baixo da apólice, então por que comprar dispositivos não
certificados? O cliente pretende economizar no conector ou no seguro? Qual o
custo de uma usina parada e não produzindo? O conector mais barato vale este
custo?
No setor elétrico brasileiro, a pirataria de equipamentos e
componentes elétricos têm sido um sério problema. Além dos conectores, há
falsificação de produtos como conectores, disjuntores, cabos e outros vários
componentes. Por essa razão, tanto a indústria do setor elétrico precisa
investir mais em proteção da propriedade intelectual como os consumidores
precisam aumentar sua consciência em relação à importância de comprar apenas
produtos originais.
Quando há um projeto de uma peça produzida em um tipo de
metal para o contato elétrico, esta é uma decisão técnica sobre medida,
tecnológica e científica, e este pequeno detalhe pode ser um divisor, entre uma
resposta final extremamente satisfatória ou não. No caso do conector com o
metal impróprio mal dimensionado ou de baixa qualidade para sua destinação, o
item já nasce com uma deficiência técnica natural.
A utilização de produtos genuínos na área elétrica é de
fundamental importância para garantir segurança, eficiência e durabilidade das
instalações elétricas. Ao optar por produtos originais, o usuário estará
investindo em um sistema elétrico mais confiável, seguro e no bom funcionamento
dele como um todo. Também protegerá pessoas, bens e muitas vezes o próprio meio
ambiente.
A escolha pelo gadget genuíno pode também
direcionar naturalmente para uma ‘certificação de qualidade’, demonstra
sobretudo ao mercado nacional ou internacional que a indústria segue padrões de
excelência e por isso tem um diferencial de mercado, que é seu comprometimento
com padrões de qualidade, cuidado ambiental, e até com a saúde ocupacional e
segurança do trabalho. Ela atesta também o comprometimento com a progresso
contínuo e a satisfação do cliente.
Diversos acidentes já ocorreram, alguns com gravidade,
envolvendo o uso de produtos elétricos similares e/ou pirateados. A utilização
de componentes e equipamentos elétricos similares, falsificados e não originais
representam sempre a possibilidade de risco à segurança de trabalhadores e
instalações. Os dispositivos “copiados” e/ou pirateados muitas vezes não passam
por testes de qualidade rigorosos e por vezes mascaram testes, o que
invariavelmente resultam em produtos de baixa qualidade, peças defeituosas e
isolamento inadequado. Como não atendem também às normas técnicas e de
segurança, aumenta a chance de incêndios e descargas elétricas.
Em geral os produtos pirateados não possuem ‘termo
de garantia’ do fabricante contra defeitos de fabricação, o que
deixa o comprador desamparado em caso de problemas técnicos. Como são uma cópia
grosseira de produtos originais podem resultar num produto anômalo, com
componentes que não se encaixam corretamente ou que sobrecarregam o sistema
elétrico.
Todos os produtos originais são projetados para funcionar
com maior eficiência energética, ajudando a reduzir o consumo de energia e os
custos operacionais ao longo dos anos. As cópias e os pirateados, por sua vez,
podem ainda danificar outros equipamentos conectados à rede elétrica, gerando
custos adicionais com reparos e substituições.
Os modelos falseados têm boa chance de produzir avarias
permanentes a outros componentes ou sistemas, especialmente em instalações
complexas. As “cópias” e os “piratas” podem resultar em despesas pesadas de
reparo ou até na substituição total dos dispositivos. Embora produtos originais
possam ter um custo inicial mais alto, sempre proporcionam melhor desempenho e
durabilidade, porque evitam substituições frequentes e consertos, o que a longo
prazo gera economia.
Há players do mercado eletroeletrônico que
podem entender que copiar e piratear seja uma ‘forma natural’
de engenharia reversa ou retroengenharia ‘informal’.
Esse pensamento está absolutamente errado, e pode ser usado até por má fé. De
acordo com especialistas, a engenharia reversa é o processo
que analisa um produto para entender como é seu funcionamento, com o objetivo
de criar um produto semelhante ou compatível. Já a “cópia” mal feita com adoção
de materiais similares para sua fabricação e a pirataria consiste
na produção de uma cópia ou reprodução não autorizada de um produto patenteado,
registrado no INPI, com o objetivo de comercializá-lo ilegalmente.
O fato é que a engenharia reversa legal e
a pirataria ilegal podem ter uma linha tênue entre elas,
principalmente quando se trata de produtos complexos como são os
eletroeletrônicos, mas a legislação vigente tem que ser regiamente cumprida,
sem falsas interpretações. Neste cenário até o abuso da informação, ou seja, o
levantamento exagerado de elementos e dados para serem aproveitados na
fabricação de produtos são também uma prática ilícita, segundo especialistas do
setor jurídico.
O estudo Piracy in electrical and electronic
products - Anti-counterfeiting best practice and strategies – (Pirataria
em produtos elétricos e eletrônicos - Melhores práticas e estratégias
antifalsificação) publicado pela International Electrotechnical
Commission (Comissão Internacional Eletrotécnica) revelou há 10 anos
que os produtos elétricos e eletrônicos falsificados ocupavam o segundo lugar
em produtos falsificados só abaixo dos produtos farmacêuticos. “De componentes
como conectores, fusíveis, cabos e disjuntores a equipamentos domésticos,
ferramentas de trabalho profissionais e peças de reposição automotivas e
aviação, nada está salvo da falsificação”. Portanto, todos temos que
fazer nossa parte.
* Marcelo Mendes é gerente geral da KRJ Conexões
( https://krj.com.br/ ). É
economista e executivo de marketing e vendas do setor eletroeletrônico há mais
de 15 anos, com atuação inclusive em vários mercados internacionais.